domingo, 6 de abril de 2025

VÍCIOS COMPORTAMENTAIS

 


Vício comportamental não sexual: domínio-submissão

Sintomas

1. Compulsão para ocupar um dos papéis, dominante ou submisso, em todas as situações.
2. Existe em relacionamentos afetivos ou profissionais.
3. Sempre é mais evidente em um dos polos, o dominante ou o submisso.
4. Sempre é mais sutil no polo oposto, p.ex., o tirano no trabalho é vassalo em casa.
5. É um dos jeitos de as neuroses de transferência se manifestarem.
6. É um jeito de pensar o mundo (dividido em dominadores e submissos).
7. É uma das manifestações mais comuns do narcisismo.
8. É uma das faces mais cruéis das religiões tirânicas (fiéis e infiéis; “morte aos infiéis”).
9. É face cruel de fanatismo político (“nós contra eles” / polarização extremada).
10. É a maneira principal de como o Superego lida conosco (obediente ou rebelde).
11. Costuma vir junto com o sadomasoquismo básico, fodão-merda e o vício winner loser (vencedor-perdedor). Um ou mais, dos três.

Regras para diagnóstico

1. As mesmas dos genéricos.
2. Item 1 com o 2 dá 100% de diagnóstico.
3. Outros itens dão peculiaridades e graus de gravidade.

Perguntas

1. As mesmas dos genéricos.
2. Histórico familiar de domínio-submissão abusiva.
3. Estaria repassando o abuso (dominador)?
4. Estaria revivendo o abuso (submisso)?
5. Histórico familiar de ter sido mimado (leva mais frequentemente à predominância do domínio).
6. Histórico familiar de ter sido mimado por um e dominado pelo outro, principalmente em pais separados.
7. Existe neurose de transferência envolvida?
8. Existe sadomasoquismo básico envolvido (crueldade ou vitimismo)?
9. Existe fodão-merda ou winner loser envolvidos?
10. Existe fé religiosa / fanatismo religioso envolvidos?
11. Existe fé política / fanatismo político envolvidos?
12. Existe polarização política extremada?

Vicio comportamental não sexual: sadomasoquismo básico

Sintomas

1. Os mesmos dos genéricos.
2. Predominância de um dos papéis com sutileza do outro (a vítima masoquista se vinga sadicamente de maneira terceirizada: mostrando ao mundo a monstruosidade do algoz).
3. Crueldade moral ou física, imposta ou sofrida, ou ambas.
4. Prazer em maltratar, em machucar, em ferir, em esculachar, em diminuir o outro.
5. Vitimismo (a “nobreza do martírio”, a superioridade moral do sofredor).
6. Cultivo do drama como razão para o maltrato;
7. Cultivo do drama por sua condição de vítima, para mostrar ao mundo a crueldade de seu algoz.
8. Cultivo do sentimento de culpa para a busca de penitências sofridas.
9. Costuma fazer parte das neuroses de transferência.
10. Costuma se acompanhar de outras modalidades parentes (domínio submissão; fodão merda; winner loser)

Regras para diagnóstico

1. As mesmas dos genéricos.
2. Os itens 1, 2 e 3 dão 100% do diagnóstico.
3. Outros itens dão gravidade e características.

Perguntas

1. As mesmas dos genéricos.
2. Existe neurose de transferência envolvida?
3. Existem domínio-submissão, fodão-merda e/ou winner-loser junto?
4. Pesquisar história familiar desses vícios.







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O AMIGO PERGUNTA SOBRE O ESTRANHAMENTO E A PSICANÁLISE

 


“Você diz que a psicanálise, assim como a ciência, tem o estranhamento como motivação. Pode me explicar?”

Francisco Daudt: O estranhamento é o incômodo que motiva um dos nossos três desejos básicos, a vontade de entender (os outros dois são o desejo de prazer e o desejo de justiça, motivados pelo apetite/tesão e pela indignação/raiva, seus incômodos respectivos). Os três servem ao nosso DNA: sobrevivência pessoal e a da espécie.

O estranhamento é uma sofisticação de um de nossos medos básicos: o medo ao que não nos é familiar, o medo ao estranho. Um bebê, quando nos estranha, começa a chorar de medo: “ele está me estranhando”, diz-se. Se você vê um estranho à noite numa rua deserta, ele será uma ameaça até prova em contrário, até você torná-lo em algo familiar. Esse é um preconceito que salva vidas.

O mesmo se passa com fenômenos estranhos da natureza: buscar entender o que nos diz o clima, as nuvens, o vento, nos leva a tomar atitudes de proteção que podem salvar nossas vidas. É isso que está na base da busca de explicações. De início, inventadas: “os deuses estão furiosos, precisamos acalmá-los”. Depois do Iluminismo, pesquisadas: “eu ainda não sei, mas quero saber”: foi o nascer da ciência.

O mesmo se passou com Freud e sua invenção científica, a psicanálise: a paralisia da histérica causava estranhamento. Ele pesquisou (de início, via hipnose) e conseguiu uma compreensão: havia uma substituição acontecendo nela sem que ela tivesse consciência disso. Saía o horror de se ver com desejo sexual, entrava o problema mais controlável de se ver com a mão paralisada.

Então foi o estranhamento que levou à compreensão de um inconsciente operando em nós, de um Superego impondo leis contra o desejo sexual, de uma doença (a neurose) que continha esses elementos combinados de forma… estranha: assim nasceu a psicanálise.







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PABLO ORTELLADO E “ADOLESCÊNCIA”

 



Os artigos do Pablo Ortellado no Globo têm sido de grande ajuda para eu pensar melhor. Ele argumenta com serenidade e lógica transparente. Ele convence.

Duas ferramentas conceituais que adquiri com ele e que são muito úteis para avaliação da realidade são o “viés de disponibilidade” e o “pânico moral”.

O viés de disponibilidade é um comportamento que leva as pessoas a dar mais importância a informações e lembranças que estão mais disponíveis. É também conhecido como heurística da disponibilidade.

É mais ou menos o que nos conduz a achar do mundo através do que vemos nas mídias ou nas redes sociais: o que nos está disponível. Ora, boa notícia não é notícia (“no News? good News!”). Isso nos leva a pensar que “esse mundo tá perdido”, “vivemos à beira do abismo” etc.

Já o pânico moral, ele o comentou a partir da ultra-comentada série “Adolescência”, aquela que não vi nem vou ver, justamente para não ser afetado pelo pânico moral.

Nas palavras de Pablo, “pânico moral é uma reação desproporcional a grupos sociais percebidos como ameaças graves aos valores e à ordem de uma sociedade”. Foi o que ele detectou na série “Adolescência”: um episódio (fictício, mas considerado ilustrativo de uma realidade social) é visto como grave ameaça aos valores de igualdade entre homens e mulheres.

Aí entra o viés de disponibilidade (bad news) para amplificar o medo, o ódio do algoritmo das tretas nas redes sociais, a dar a impressão de que estamos cercados de “demônios do povo”, os adolescentes misóginos esperando vez para cometer feminicídios.

Como disse Umberto Eco: “o amor é restritivo, mas o ódio não, o ódio é generoso, ele une multidões!”







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terça-feira, 1 de abril de 2025

O AMIGO PERGUNTA SOBRE O SUPEREGO DOS MIMADOS

 


O AMIGO PERGUNTA SOBRE O SUPEREGO DOS MIMADOS

“Os mimados desenvolvem um Superego? Como seria isso, se eles nunca são ameaçados de desamparo?”

Francisco Daudt: Primeiramente vamos considerar os tipos de mimo:

1. Mimo do “amor absoluto”: pais que confundem autoridade com autoritarismo, estabelecimento de limites com opressão;

que temem a simples possibilidade de seus filhos os verem como “maus”; que culparam seus pais por todos os seus problemas (e temem que no futuro seus filhos façam o mesmo com eles);

que reprimem as irritações que seus filhos lhes causam, e reagem exageradamente com manifestações “amorosas” a cada vez que se irritam com eles;

que obedecem ao senso comum de ter que dizer “eu te amo” para os filhos várias vezes por dia;

que nunca contrariam seus pedidos.

Como é o Superego gerado, nesses casos? É um cruel Superego terceirizado: seus pais, por submissão e medo dela, a tornaram num pequeno tirano: eles a puseram na posição de Superego deles. Eles a induziram a um vício sadomasoquista de domínio/submissão em que ela é o dominador e eles as vítimas.

Ao mesmo tempo vai se construindo o “Superego bomba-relógio”: a criança vai descobrindo que o mundo é duro (infinitamente mais duro para ela, por contraste com sua casa), vai caindo na real sobre seu despreparo para negociar fora de casa, onde as pessoas não se comportam como seus pais.

A criança se vê incapacitada para qualquer tipo de construção (aquilo que lhes daria autonomia e independência).

O drama frente a qualquer dificuldade é sempre enorme. A possibilidade de ela desenvolver vício em substância “para aliviar esse duro” será enorme: a substância mais comum será a maconha.

2. Mimo do descarte: pais que aceitam qualquer coisa dos filhos para se verem livres deles o mais rápido possível, para que voltem aos seus reais interesses. Não querem ir ao colégio? Tudo bem. Querem passar o dia no celular? Melhor ainda.

Muito comum em filhos de casais separados, que vivem dois regimes de governança, um permissivo e o outro cobrador.

Como o Superego é gerado, nesses casos? O lado cobrador acaba representando o “mundo sério e duro” (a construção vista com horror), o mundo do Superego. O lado permissivo forma sua defesa viciante, o “mundo do dane-se” (o imediatismo que abre para outros vícios de prazer instantâneo - maconha continua como o mais comum - tornando a construção mais difícil ainda).

Ou seja, o Superego do mimado é um monstro poderoso que amedronta e pede (ou impõe) o alívio dos vícios.







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O AMIGO PERGUNTA SOBRE DIAGNÓSTICO DE VÍCIOS

 



O AMIGO PERGUNTA SOBRE DIAGNÓSTICO DE VÍCIOS

“Como eu posso saber se sofro de vícios? O que diferencia um gosto de um vício?”

Francisco Daudt: Aqui vão alguns critérios para diagnóstico dos vícios, de forma genérica, não importa se em substâncias ou comportamentais:

Vícios (genérico)

Sintomas

1. Ação compulsiva e repetitiva de aparente vontade própria, mas que causa dano.

2. Alívio das “durezas da vida”; consolo; ilusão de poder.

3. Longo tempo de duração (às vezes desde a infância / adolescência).

4. Grande aluguel (ocupa muito os pensamentos e o tempo da pessoa).

5. Imediatismo (predomínio da satisfação rápida e inibição/ intolerância às construções/ reflexões).

6. Fissura (desconforto por abstinência).

7. Negação de ver como uma doença ; ilusão de que é fruto de sua “escolha”.


Regras para diagnóstico

1. O item 1 dá 100% de diagnóstico. Os demais só dão a dimensão de gravidade.


Perguntas

1. Existe história familiar de vícios?

2. Como começou? Quais foram as circunstâncias duras da época? Fazia parte do grupo de amparo?

3. O que exatamente o vício consola? Quais as “durezas da vida”?

4. O vício em substâncias se acompanha de vícios comportamentais?

5. Vice-versa?






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O AMIGO PERGUNTA SOBRE A LOUCURA

 



O AMIGO PERGUNTA SOBRE A LOUCURA

“O que acontece com os malucos? Como entender as psicoses?”

Francisco Daudt: As psicoses sugerem um mecanismo de defesa extremo, detonado por um trauma atual que desorganiza totalmente a psique, e a reorganiza de forma bizarra: o delírio (concepção do mundo sem ligação com a realidade) é a explicação encontrada para aquela sobrecarga de sistema que o fez se desmontar. Ele é sempre grandioso (“existe uma organização mundial que me persegue”), o que dá a dimensão da gravidade do trauma.

Outra marca dessa gravidade são as alucinações: experiências dos sentidos (audição e visão, principalmente) sem estímulo externo, somente através dos estímulos de arquivos de memória do psicótico. Assim como nos sonhos, a pessoa vê o que não está lá, e ouve o que não produziu ruído.

Nas alucinações auditivas está a única pista para se fazer uma hipótese de qual área do Superego foi acionada: é de regra que os psicóticos de esquizofrenia paranoide ouçam acusações de homossexualidade, que suas alucinações os chamem de viados.

O que faria supor que tivessem um percentual homoerótico em seus desejos, causando um conflito descomunal.

A conferir (ou a refutar).






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OLHANDO O LUCRO

 


Todos os dias o pai deixava o remédio pronto na cabeceira do filho adormecido, e abria um pouco a janela para a luz entrar. Era seu jeito de ajudar o filho a acordar bem.

Um dia ele se esqueceu. Quando mais tarde eles se encontraram, o filho lhe disse: “Poxa, pai, quando vi que o remédio não estava lá, eu me dei conta do quanto é bacana você me ajudar todos os dias!”

O pai quase chorou de emoção: ele costumava comentar com o filho as coisas legais que vivem…






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